Wednesday, June 27, 2012

The Elephant in the room and the Superwomen

Vou pressionar a tecla pause na programação do blog para falar sobre o elefante que está dentro da nossa sala. No último post eu coloquei um vídeo aonde a Sheryl Sandberg, que é COO do Facebook e tem uma carreira incrível, fala sobre o fato de que um número hiper reduzido de mulheres consegue chegar as posições de liderança. Em especial ela chama todas as mulheres para não deixarem de lutar por suas posições em antecedência de que sairão em breve para começar uma família, “do not leave before you leave”. Esse discurso dela foi visto por milhares de pessoas e traz a tona uma discussão que constantemente me vem a cabeça: como ter equilíbrio entre a vida familiar e a vida profissional. Detalhe importante: eu não tenho filhos ainda e já me encontro nesse dilema há pelo menos 4 anos, desde quando casei.

Algumas leitoras me chamaram a atenção para um artigo que saiu recentemente na revista Atlantic nos Estados Unidos e que está na boca de todas as mulheres por lá. Escrito pela Anne-Marie Slaughter, que é professora de Política e Relações Internacionais da Princeton University e que foi diretora de Planejamento Político no Departamento de Estado dos Estados Unidos, o artigo discute o elefante dentro da sala: será que realmente as mulheres não podem ter tudo o que querem?! (clique aqui para ler o artigo “Why women still can’t have it all”, de Anne-Marie Slaughter)

Essa discussão é muito interessante e acho que antes de mais nada para entrar nessa discussão vale investir um tempinho para ler o artigo dela na totalidade. No artigo ela expõe o fato de que é sortuda, ao contrário das mulheres que vieram antes dela e que lutaram pelos direitos da mulher em primeiro lugar, por ter a escolha em suas mãos se quer trabalhar ou não. Mas pergunto a vocês: quantas vezes se perguntaram, principalmente naqueles momentos de profunda revolta, quem foi a mulher que resolveu queimar o primeiro sutiã? Eu já me fiz essa pergunta muitas vezes. Assumo. Sim, acho incrível que temos a opção, mas por outro lado acho que estamos muito atrasadas nessa discussão pois faltam reais modelos de mulheres que conseguiram realmente equilibrar essa vida dupla com primor. Digo com primor por não terem que ter aberto mão de coisas em quaisquer das suas duas vidas, a profissional e a pessoal. A maior parte das mulheres que chegaram lá, ao meu ver, tiveram que abdicar em algum momento de coisas cuja a importância talvez não tenham nem se dado conta. Então ao meu ver estamos atrasadas. Nossas avós acharam um caminho inicial para conquistar seu espaço que foi atuar como os homens e nós muitos anos depois continuamos nesse mesmo caminho e sem trazer a tona o fato de que essa equação ainda não está resolvida.

A Anne-Marie diz no seu artigo uma coisa muito interessante: que quando achamos modelos de mulheres bem sucedidas e que chegaram ao topo, no geral estamos falando de mulheres que por si só são super-mulheres e que por isso não deveriam ser os nossos modelos pois até as profissionais mais talentosas ainda assim ficam com um senso de fracasso por estarem se comparando a um padrão tão elevado (“These women cannot possibly be the standard against which even very talented women should measure themselves. Such a standard sets up most women for a sense of failure”).

Eu trouxe um pouco desse assunto a tona, num desabafo levemente exacerbado quando falei sobre o filme recente da Sarah Jessica Parker, “I Don’t Know How She Does It”. E para ser sincera ainda não acho que as mulheres de nossa geração vão conseguir chegar a uma resposta final sobre como chegar a esse equilíbrio que para mim ainda parece bastante utópico. Porém acho que somos sim extremamente talentosas para conseguir chegar mais próximas desse equilíbrio do que as gerações que vieram antes de nós. E assim quem sabe, nossas filhas ou netas consigam realmente chegar lá!

Eu mesma por diversas vezes me peguei pensando em como achava um fracasso, ou melhor dizendo, um desperdício de potencial aquelas mulheres que não tentavam construir uma carreira sólida fora de casa. Mas por outro lado, me pego constantemente sonhando em um dia conseguir vencer as amarras que eu mesmo coloquei para me dar ao luxo de poder ter essa opção de ficar em casa caso ache necessário. Isso por si só é um exemplo de como essa relação entre o trabalho e a vida pessoal não pode nem ser chamada de relação, é uma real briga entre os dois. Quem vale mais?! E será que temos que realmente abrir mão de um ou do outro para suceder sem culpa em algum dos dois? Será que esse equilíbrio é realmente utópico? Como vocês se sentem em relação a isso? E a culpa que sentimos, como fica?

No vídeo, a Sheryl coloca a culpa de não conseguirmos chegar às posições de liderança na nossa falta de ambição. Eu sinceramente não concordo. Conheço mulheres extremamente talentosas e ambiciosas e que ainda assim não conseguiram chegar no equilíbrio. A Sheryl de uma certa maneira está discutindo apenas o fato de poucas de nós chegarmos ao topo, mas de uma certa maneira também deixa de lado a discussão sobre o equilíbrio entre a nossa vida dupla. O que eu gosto do vídeo dela é o efeito motivador do seguinte mantra: “Don’t leave before you leave”. Eu já me vi em situações como essa, aonde deixei de levantar a mão por saber que deveria descer um degrau por causa de alguma escolha pessoal. E digo que me arrependo muito por ter feito isso: deixar a peteca cair antes da hora. Então esse mantra me chamou a atenção para isso e me estimulou a ser mais cuidadosa nas próximas vezes. Mas por outro lado, concordo com o artigo da Anne-Marie, de que temos que falar sobre o elefante na sala, pois estamos longe de ter sucedido nisso, e definitivamente atuar como homens para suceder na vida profissional não deveria ser a única saída, já que no final das contas o fato de menos mulheres chegarem aos postos de comando não pode ser explicado pela falta de ambição.

Outro ponto que acho brilhante da discussão é quando a Anne-Marie traz a tona o fato de que o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal não pode ser obtido simplesmente pela divisão das responsabilidades da casa e dos filhos com um marido que esteja disponível para tal. Eu tenho um marido incrível e que está sempre disponível para dividir essas responsabilidades comigo e tenho certeza que ele fará o mesmo quando tivermos filhos. Além disso ele suporta a minha carreira por completo, o que também é sensacional. Porém tenho sã consciência de que não estarei 100% satisfeita quando eu tiver que deixar de lado a vida familiar por alguma razão profissional, mesmo que ele esteja lá 100% disponível para os nossos filhos. As mulheres simplesmente não são assim, creio que o nosso instinto maternal sempre falará mais alto. Aqui vai o trecho: “I do not believe fathers love their children any less than mothers do, but men do seem more likely to choose their job at a cost to their family, while women seem more likely to choose their family at a cost to their job”.

O assunto do equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional é tão complicado e tem tantas vertentes que parece quase que uma discussão do sexo dos anjos. E para mim essa equação se torna cada vez mais difícil de ser resolvida. Para o meu marido é extremamente importante que tenhamos filhos no próximo ano, mas para mim ainda assim não consegui solucionar essa equação. Esse questionamento constante que encontro ao tentar decidir se essa é a hora certa ou não me deixa ainda mais confusa. Será que meus empregadores vão entender quando essa hora chegar? E será que vou conseguir sair de licença sem ter a sensação de que estou perdendo na vida profissional? Minha mãe é um dos maiores exemplos que tenho de mulher bem sucedida e foi o exemplo dela que me motivou em grande parte das minhas escolhas. Quando éramos pequeninas ela estava em casa, e isso foi essencial para a nossa formação. Será que terei o mesmo privilégio que minha mãe teve? O fato é, como Anne-Marie chama a atenção em seu artigo, que sempre teremos que nos deparar com “trade-offs”, deixar alguma coisa de lado para ter outra.

Tenho muitos amigos que trabalham longas horas de trabalho e passam madrugadas no trabalho e sinceramente não consigo entender. Esse balanço eu acho que já consegui alcançar até um certo ponto: tento ser o mais produtiva o possível para poder sair do escritório o quanto antes. Mas ainda assim o meu dia de trabalho é quase nada flexível, ou seja, eu não trabalho até a meia-noite porém durante a hora comercial quase nunca posso me ausentar do escritório. Inclusive almoço muitos dias na minha própria mesa de trabalho, em frente ao computador e atendo o telefone entre uma garfada e outra. Então ainda assim sonho com flexibilidade. Tenho quase uma síncope quando recebo aqueles avisos do Correio para retirar uma encomenda: eles abrem das 9 às 17 horas, de segunda a sexta. Eu não estou disponível nesse período. O que fazer... Essa é a natureza do meu trabalho e sinto que muito provavelmente se eu quiser mudar isso, terei que alterar o curso da minha carreira. Mas gosto de um ponto que a autora aborda em relação a isso: “Long hours are one thing, and realistically, they are often unavoidable. But do they really need to be spent at the Office?”. Os smartphones e blackberries trouxeram uma “liberdade” que não tínhamos antes, de poder sair do escritório quando precisamos, sem faltar com a responsabilidade de continuarmos trabalhando se necessário. Mas será que realmente estamos usando toda a tecnologia que temos disponível hoje da melhor forma? Ainda com um blackberry em punho, não tenho a flexibilidade que desejo, por exemplo. O que acham disso? É um bom ponto para discussão não?

Quantas vezes se sentiram culpados por estar saindo do escritório antes de seus colegas? Será que não é muita culpa para carregar?! Por que mesmo nós mulheres nos pegamos julgando outras pessoas de não profissionais ou descomprometidas com o trabalho se elas optam por deixar o trabalho de lado de vez em quando para passar um tempo com a família? Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu culpado por estar saindo de férias, mesmo tendo trabalhado um absurdo.

Gosto de quando a autora fala sobre como a nossa vida mudou nos últimos anos e isso vem ao encontro da minha conclusão principal: não precisamos ter tanta pressa. Cá estou eu, no auge dos meus 20 anos, convivendo com toda essa culpa antes mesmo de ter filhos, sendo que muito provavelmente, se a minha saúde estiver bem, vou trabalhar muito além dos meus 50 anos. Então para que tanta pressa? Por que essa pressão toda para chegar ao topo antes dos 40 anos. Palmas para a autora mais uma vez.... Segue o trecho: “Women who have children in their late 20s can expect to immerse themselves completely in their careers in their late 40s, with plenty of time still to rise to the top in their late 50s and early 60s.”. E o texto que segue esse trecho é ainda mais fantástico e me trouxe uma plenitude quase que instantânea ao pensar que minha carreira não precisa ser uma reta ascendente, e sim uma escada irregular. O conceito que a autora traz sobre “investment intervals”, que são intervalos em que ficamos estagnados por um tempo na carreira para concentrar esforços em outras áreas da vida, é na minha singela opinião brilhante.

Fica aqui um convite para ler o artigo da Anne-Marie e entrar para essa discussão. E também um pensamento final do artigo que me parece importantíssimo: “To be a strong woman, you don’t have to give up on the things that define you as a woman”, by Lisa Jackson.

3 comments:

Anonymous said...

Absolutamente fantastico. Adorei ler o texto original e o teu comentario tambem. Acho mesmo que era o que estava a precisar de ler neste momento.
Bjs*
Sonia

Betina said...

Cami querida - amei esse teu post, muito bacana, muito sincero e lúcido
Me deu bastante coisa pra pensar! No meu caso, apesar de trabalhar MUITO e viajar MUITO a trabalho, eu tenho uma MEGA flexibilidade e isso faz toda a diferença no fim das contas. Porque acho que a questão aqui é, num mundo competitivo, ninguém tá pedindo pra trabalhar pouco - mas sendo produtiva e conseguindo flexibilidade, fica bem mais fácil né?
adorei - vou ler o artigo agora! Beijos Bê

Le said...

Amei a tua reflexão Camis!!! Sou fascinada por esse assunto! O work-life balance acho que existe mais do lado de cima da America, onde eu moro atualmente! Sinto muitas saudades do Brasil, mas esse ritmo de trabalho que levamos aí é quase insano não? Vou ler o artigo original! Adorei! Beijos